Luca de Meo é o novo CEO da Kering: Gucci em foco

Kering nomeia Luca de Meo como CEO. Ex-Renault assume com missão de reerguer Gucci e renovar estratégia do grupo de luxo liderado por François-Henri Pinault.

A Kering — gigante do luxo por trás de Gucci, Balenciaga e Bottega Veneta — acaba de nomear Luca de Meo como seu novo CEO, em uma movimentação que marca uma das mudanças de liderança mais significativas do setor na última década. A decisão, aprovada pelo Conselho de Administração presidido por François-Henri Pinault, será efetivada em 15 de setembro de 2025.

Com 30 anos de trajetória na indústria automotiva e reconhecido por revitalizar marcas como Renault, SEAT e Fiat, de Meo chega à Kering com um desafio claro: reposicionar o grupo num mercado em mutação e restaurar o prestígio da Gucci, sua marca mais icônica, que vem perdendo fôlego nos últimos trimestres.

O luxo enfrenta sua própria reinvenção

O cenário exige ousadia. Enquanto nomes como LVMH consolidam posições dominantes, a Kering tem enfrentado quedas expressivas nas ações (78% desde o pico em 2021) e perda de tração frente a consumidores que buscam marcas sólidas e inovações relevantes. Só no primeiro trimestre de 2025, a Gucci caiu 25% em receita; Saint Laurent, 9%; e Balenciaga, McQueen e Pomellato, 11%.

Mesmo assim, Pinault se recusa a enxergar a nomeação como um ato emergencial. “Não estou contratando um bombeiro, mas um arquiteto do futuro”, afirmou em teleconferência com analistas.


Um CEO com DNA de produto e marketing

Luca de Meo não é estranho ao branding. Com passagens por Fiat, Audi, Volkswagen e Renault, construiu reputação sólida como “product guy” com olhar de marca. Foi ele o responsável pela bem-sucedida reinvenção do Fiat 500, reposicionamento do Renault 5 e, mais recentemente, pela transição estratégica da montadora francesa rumo à eletrificação e digitalização.

Analistas como Luca Solca (Bernstein) e Thomas Chauvet (Citi) apontam que, embora sua experiência direta no universo do luxo seja limitada, sua afinidade com design, marketing e inovação o torna um match estratégico — especialmente num momento em que o sucesso de uma maison depende tanto de narrativa quanto de produto.


O que esperar de sua liderança?

Sob seu comando, espera-se que a Kering passe por uma reestruturação organizacional que inclua:

  • Reforço na liderança criativa de Gucci, onde Demna estreia como diretor criativo em setembro;

  • Reavaliação da estrutura de co-CEOs adjuntos (Jean-Marc Duplaix e Francesca Bellettini);

  • Redefinição dos investimentos em CAPEX nas maisons e iniciativas de eficiência operacional;

  • Fortalecimento da agenda de inovação e sustentabilidade, áreas em que de Meo já mostrou liderança na indústria automotiva.


Um momento simbólico para François-Henri Pinault

Depois de duas décadas como CEO, Pinault seguirá como chairman e figura central na orientação estratégica do grupo. Sua trajetória é marcada pela transformação da Kering de um conglomerado de varejo (PPR) para um dos principais players do luxo global, com apostas históricas como a aquisição da Gucci e a criação de uma holding 100% focada no alto padrão.

A sucessão também simboliza uma profissionalização da governança, agora mais alinhada com as práticas internacionais: os cargos de CEO e chairman passam a ser oficialmente separados.


Conclusão: uma jogada arriscada — e necessária

A nomeação de Luca de Meo como CEO da Kering representa uma rara combinação de risco calculado e ambição estratégica. É um sinal de que o grupo está disposto a romper paradigmas para recuperar protagonismo — especialmente em tempos em que a indústria do luxo passa por sua própria metamorfose.

Para um setor onde tradição costuma pesar mais que inovação, a entrada de um outsider com visão de produto e mentalidade ágil pode ser exatamente o que a Kering precisa.

Enquanto isso, o mercado observa — e os concorrentes recalculam.